segunda-feira, 30 de abril de 2012

Escrita Criativa - "Os Amigos da Biblioteca Escolar"

Dra. Isilda Afonso e Dr. Jaime Gonçalves


A leitura de imagens e a escrita são duas atividades que constantemente nos acompanham ao longo da vida e a cada dia. Saber ver e saber interpretar o que vemos permite-nos a compreensão do mundo e envolvermo-nos com ele. As pessoas, os animais, os objetos, etc., são enciclopédias de saber, de transmissão de vivências e veículos de ideias.
Ao observarmos, estamos a transportar o nosso mundo e a inserir em nós o mundo dos outros. Saber partilhar as ideias e conjugá-las são passos importantes para a construção da cultura e do conhecimento. Por isso, nas aulas e no clube de escrita criativa temos vindo a recorrer a esta estratégia e com muito encanto e prazer, temos elaborado muitas descrições e recriado o que temos observado.
Foi também na Biblioteca Escolar do CEL que foi desenvolvida uma atividade deste género, com alunos mais pequenos, mas que se mostraram muito atentos, observadores, empenhados e criativos. Foi uma surpresa!
As imagens tinham subjacente a temática do ano europeu do envelhecimento ativo e da solidariedade entre gerações. Partindo da sua observação e da descrição oral entre alunos e professores, descobrindo sensações, cores, pessoas, gestos, diálogos e pequenos pormenores escondidos nas imagens, abriu-se um mundo novo naqueles espectadores tão ávidos de descoberta e capazes de mostrarem que aquilo que os rodeia não é em vão.
Os momentos de escrita foram diversificados, sempre em trabalho de pares: escrita de legendas para as imagens, poemas que cruzaram vocabulário relacionado com as imagens, histórias criadas com as personagens, banda desenhada, desenho e, posteriormente, com o senhor professor Jaime Gonçalves, a turma (de 4º ano) iria estudar a temática e pesquisar mais sobre este tema tão atual. Os trabalhos estão na biblioteca para todos apreciarem.
Vale a pena saber, vale a pena ouvir, vale a pena APRENDER! Continuem e até à próxima atividade, que será outro desafio à vossa criatividade e capacidade de imaginação.  Isilda Lourenço Afonso

De repente, um Amigo…
Um dia, de muito nevoeiro e frio, quando a Rita regressava a casa, ouviu uns latidos muito fraquinhos que vinham detrás da sebe do jardim municipal. Aproximou-se devagarinho, sem fazer barulho, espreitou cheia de curiosidade e o que viu? Um cãozito de grandes orelhas, patas pequenas, pelo tão comprido e encaracolado que tocaria o chão, mesmo quando estivesse apoiado nas suas quatro patas. Os olhos e o nariz eram igualmente pequeninos. Mas, o que logo fascinou a Rita foi a expressão dos seus olhos. Uma expressão linda de morrer e tão enigmática. Parecia que estava com frio ao mesmo tempo que parecia que queria que a Rita pensasse que estava quentinho; parecia que estava com fome, ao mesmo tempo que dava a entender à Rita que estava saciado. Enfim, parecia que pedia ajuda sem a pedir, se é que entendem! A Rita tinha ficado encantada com aquela expressão e não hesitou em pegar nele ao colo, aconchegá-lo e levá-lo para sua casa. Tinha a certeza que sua mãe haveria de perceber e ficar também seduzida pelo Bolinha. É verdade, tinha acabado de lhe dar um nome.
Deu-lhe banho, de comer, deitou-o no tapete do seu quarto cobriu-o com um cobertor. O Bolinha adormeceu logo, com um rosto lindo de morrer que parecia dizer, obrigado. Também a Rita dormiu como um passarinho feliz, a pensar nas brincadeiras que iriam fazer juntos.
Acordou sobressaltada ao ouvir chamar pelo seu nome. Não conhecia aquela voz. Levantou a cabeça e nem queria acreditar, era o seu lanzudinho de patinhas no ar e, pasmem! . . . a falar e a chamar por si. Como era possível? Este cão era muito diferente dos outros, até sabia falar.
- Tenho de te agradecer tudo o que fizeste por mim. Hoje, os animais são muito maltratados. Até mesmo que têm dono. O pior é mesmo nas férias de verão. Não têm quem fique connosco e abandonam- nos, e outras vezes porque envelhecemos. Ficamos à mercê da rua e da caridade de alguém. É muito triste!
- Tens toda a razão. As pessoas deveriam pensar bem antes de abandonarem ou maltratarem os animais. Não podemos esquecer que são seres, que sentem como nós e que nos são uteis. Por vezes, até nos dão lições de humanidade. — retorquiu a Rita.
- Pois é. Tu és assim e espero que continues, porque eu gosto das pessoas, brinco e colaboro com elas.
- Mas agora explica-me algo que não estou a compreender.
Por que motivo tu és um cãozito tão falador e atento? - perguntou a Rita, morta de curiosidade.
- Eu explico-te. Aprendi a falar com um rapaz que conheci há alguns anos. E tu queres saber o que eu sei fazer além de ladrar, vigiar e acompanhar as pessoas?
- Sim, vá la, Bolinha, diz-me.
- Eu sei ler, escrever, contar histórias, — dizia ele — mas também sei servir-me de um telemóvel e trabalhar com um computador.
- Mas tu és um fenómeno! Como é que isso é possível?
- Bem, eu consigo fazer tudo isto porque, apesar de viver na rua, eu acompanhava o meu amigo Tiago para a escola, para o montanhismo, para os jogos de computador, etc. Como ele possuía telemóvel, ensinou-me todos os truques, principalmente quando ligava aos pais e à namorada. Também aprendi algumas coisas sobre jogos interativos. Ele levava-me para a sua garagem e aí até jogávamos juntos, sem os pais saberem. Era mesmo fixe! Organizávamos autênticos campeonatos.
- E por que razão ele não te adotou?
- Porque os pais não queriam animais em casa, por ser um apartamento.
- Ainda bem que eu te conheci. Agora já tens uma casa! Mas o Tiago frequentava que escola?
- A EB 2,3 de Lamego, que fica no sopé da Serra das Meadas. Enquanto ele estava nas aulas, eu ia até à montanha, conversava e brincava com os meus amigos: perdizes, raposinhos, texugos, lebres e até cheguei a conhecer o Parque Biológico da Serra das Meadas. Não gostei nada de ver aqueles animais presos para serem vistos pelas pessoas. Não há nada como a liberdade!...
- Estou sem fala! E o que feito do Tiago?
- O Tiago foi viver para Lisboa e eu aqui fiquei. Ainda bem que tu apareceste.
- Ótimo! Ambos tivemos sorte. É que eu também queria ter um cãozinho e tu acabaste por aparecer na hora exata. Mas prometes que me vais contar mais peripécias da tua vida. Qualquer dia até vamos conhecer e admirar o rio Balsemão e o rio Douro. Estás disposto a isso?
- Bravo! Que grande ideia!...   
Isilda Lourenço Afonso

Docentes:
Jaime Gonlçalves, Isilda Lourenço (Autora), Cristina Correia (Professora Bibliotecária), Sofia Rodrigues.