sexta-feira, 14 de junho de 2013

Retrospetiva para memória futura - Bibliotecas Escolares entre a Expectativa e a Realidade

“A escola deixará de ser, talvez como nós a compreendemos, com estrados, bancos, carteiras: será talvez um teatro, uma biblioteca, um museu, uma conversa”. Leon Tolstoi 

Bibliotecas Hoje

Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina. 
Cora Coralina 
No Egipto, as bibliotecas eram chamadas 'Tesouro dos remédios da alma'. De facto é nelas que se cura a ignorância, a mais perigosa das enfermidades e a origem de todas as outras. Jacques-Bénigne Bossuet


As bibliotecas escolares são um meio e não um fim, ou seja, são o recurso educativo, por excelência, ao serviço da Escola, pois é por meio destas bibliotecas que se promove a leitura e o livro, se fomenta o desenvolvimento integral do aluno, se alcançam os sucessos escolar e educativo, se combate o analfabetismo e a iliteracia, se atenuam algumas desigualdades entre diferentes estratos sociais e se cria uma comunidade leitora e frequentadora de outros tipos de biblioteca. As bibliotecas podem também satisfazer a curiosidade dos alunos em relação a assuntos de cariz diferente, que transcendam as exigências do programa, através, por exemplo, da promoção de actividades que permitam utilizar a informação para a aquisição de conhecimentos de índole diversa e não fornecer apenas informações restritas ao campo das disciplinas curriculares. Deste modo, as bibliotecas escolares ajudam ainda os alunos a criarem hábitos de frequência de Bibliotecas para fins não só de fruição, como de informação e formação. Promovem, assim, o desenvolvimento do espírito crítico, o enraizamento de valores humanistas e a preparação para a vida. As bibliotecas escolares devem, pois, desenvolver o sentido crítico dos alunos, encorajando-os a formar as suas próprias opiniões e a expressá-las” (M. F. Santos, 1976), proporcionando-lhes a aprendizagem de estratégias de avaliação e utilização da informação eficazes, fazendo-os sentir que a liberdade intelectual e o acesso à informação são essenciais à construção de uma cidadania efectiva e responsável e à participação na democracia. As bibliotecas escolares contribuem, ainda, para a incrementação do hábito e do gosto de ler, através da realização de actividades diversas. Esta função, inerente às bibliotecas da escola, é capital, pois inserindo-se na escola e dirigindo-se a utilizadores jovens, as bibliotecas escolares devem ser capazes de “generalizar e desenvolver o gosto pela leitura, colaborando na formação de indivíduos capazes de encontrar nela[s], ao longo da sua vida, uma distracção agradável”. Para tal devem, entre outras coisas, oferecer material de leitura diversificado, pois “a aprendizagem da leitura deve fazer-se não só através do livro, mas da revista, do jornal, da agenda cultural, de ambientes digitais” (M. F. Sequeira, 2000). Aliado ao hábito e ao prazer da leitura, as bibliotecas escolares devem também fazer sentir aos alunos a necessidade de utilizarem as bibliotecas ao longo da vida, como forma de se enriquecerem e manusearem correctamente a informação veiculada pelos mais diversos suportes. A. Miranda. Um factor importante na formação de leitores é a aquisição de competência de leitura. Para que o leitor beneficie da leitura, enquanto "capacidade de transformar uma mensagem escrita em mensagem sonora, seguindo normas precisas" e "capacidade de compreender o conteúdo da mensagem escrita e de a apreciar com sentido crítico e estético (G. Mialaret, 1974), será necessário que adquira essa 'competência'. Para tal aquisição e desenvolvimento contribuem factores como a semântica (os sentidos das palavras) e a pragmática (o sentido de uso das palavras, que possui, perante as situações e os contextos, um forte poder de intervenção), e ainda a sintaxe e a consciência linguística (M. F. Sequeira & I. Sim-Sim, 1989), factores que se reflectem na criança ao longo dos seus três estádios de formação: o estádio inicial, o estádio intermédio e o estádio avançado (M. D. Jenkinson, 1976), evoluindo à medida que vão aumentando nela as exigências do domínio linguístico-comunicativo. Em qualquer situação, a Biblioteca Escolar deverá contribuir para aumentar e melhorar as competências de leitura. Nela existem livros e informação vária que ajudam a desenvolver essa competência, a partir do que outras competências, noutros domínios (por exemplo, na área dos valores), poderão ser desenvolvidas. Ela fornecerá informação e suscitará desempenhos que, ao serem aplicados, contribuirão para o desenvolvimento dessa competência de leitura. E.Graça 

Sociedade da informação

“A escola deixará de ser, talvez como nós a compreendemos, com estrados, bancos, carteiras: será talvez um teatro, uma biblioteca, um museu, uma conversa”. Leon Tolstoi 

No tempo recente, o domínio da sociedade da informação articulou e conjugou múltiplas formas de exultar o universo, através de diversos processos de comunicação. Assim reavivemos neste espaço de divulgação a componente da informação e do conhecimento, através das obras de alguns autores: “Precisamos de Escolas que fomentem uma cultura de exigência, de rigor, de disciplina, de trabalho e de esforço de aprendizagem. Os alunos querem uma escola que imprima um clima de esforço e de trabalho, para poderem melhorar os seus resultados […] A missão central da Escola é ensinar e fazer aprender às novas gerações o thesaurus cultural herdado das gerações anteriores e formar cidadãos criativos, abertos aos desafios do presente e do futuro e promotores do bem estar comum […] Importa que o ensino contribua para a formação de pessoas cultas, autónomas e críticas, pessoas permanentemente curiosas e capazes de formular novas perguntas, capazes de participarem na evolução e progresso das sociedades democráticas, capazes de tomarem nas suas mãos o domínio do seu próprio desenvolvimento, perseguindo a construção dos mais elevados padrões de qualidade de vida e aptas a viverem em comum.“ in Conselho Nacional de Educação. As sociedades contemporâneas estão conscientes de que a escola deve preparar os jovens para os desafios emergentes. Para tal, deverá adequar-se às mudanças constantes e terá de constituir uma estrutura sólida de transmissão de valores, referências, ferramentas de aprendizagem em diferentes suportes e conhecimentos. Num mundo complexo, descontínuo, incerto, que é paradoxal, probabilístico, emergente, cheio de ambiguidades e solicitações, parece exigir-se trabalho, acção, reflexão como chaves de um futuro que se pretende bem sucedido. O futuro exige acção, exige trabalho. As sociedades necessitam de cidadãos activos e críticos para que a viabilidade económica dos países seja possível. Por isso, a educação deve ser o pilar fundamental para o crescimento e desenvolvimento de qualquer país, deve ser uma prioridade política. Cientes de que a sociedade do conhecimento é na sua essência personalista, assentando toda a sua dinâmica na pessoa do cidadão, acreditamos na construção de uma escola que, ouvindo e pensando as pessoas que moram nos alunos, contribua para o desenvolvimento de todo o seu potencial e para o exercício de uma liberdade autónoma, consciente, responsável e criativa. Em conexão com esta sociedade do conhecimento, neste início de século XXI, a qualidade de qualquer projecto exige uma consciência e uma Memória. No âmbito da Memória, conservar a informação corresponde a uma prática e a uma necessidade cuja origem remonta à Antiguidade. Bibliotecas e arquivos são as instituições que têm vindo a cumprir esta missão, privilegiando sobretudo a informação escrita sob a forma de um suporte bem definido - o livro. A biblioteca escolar desempenha um papel essencial ao desenvolver nos estudantes o conceito de recuperação da informação e ao auxiliá-los a adquirir competências para utilizar e gerir fontes de informação, de tal forma que eles se habituem a considerar o livro e a informação como necessidades do dia-a-dia e, especialmente, como fontes de prazer e de desenvolvimento pessoal, conservando e aprimorando a Memória. As Bibliotecas Escolares detêm hoje um papel fundamental não apenas na promoção da leitura, mas também no desenvolvimento de actividades potenciadoras de vínculos com o Currículo Nacional do Ensino Básico e as com as Tecnologias de Informação. Com efeito, as Tecnologias de Informação e Comunicação trouxeram consigo novos ventos a que a Sociedade da Informação não é alheia, sendo a partilha e a comunicação permanente um desígnio da actualidade. in Congresso Nacional "Literacia, Media e Cidadania" 

Serviço de Referência Hoje

Minha segurança se funda na convicção de que sei algo e de que ignoro algo a que se junta a certeza de que posso saber melhor o que já sei e conhecer o que ainda não sei. Minha segurança se alicerça no saber confirmado pela própria experiência de que, se minha inconclusão, de que sou consciente, atesta, de um lado, minha ignorância, me abre, de outro, o caminho para conhecer. FREIRE 

A Biblioteca deve ser uma porta aberta para todos no acesso à informação. A Biblioteca é uma organização que não tem como principal objectivo o lucro, mas sim como missão proporcionar informação e ideias para o sucesso, na sociedade actual, baseada na informação e no conhecimento e desenvolver competências para a aprendizagem ao longo da vida. À Biblioteca Escolar é reconhecido um papel determinante na dinâmica da sociedade, nomeadamente o seu contributo para a criação de hábitos de leitura e a promoção das literacias centradas na comunidade. As Bibliotecas integram serviços de referência que apoiam o utilizador na descoberta dos serviços da biblioteca e na definição de formas de recuperação de informação, tendo em conta as necessidades de informação de cada utilizador. O serviço de referência presta orientação e apoio aos utilizadores, nomeadamente na definição de estratégias de pesquisa e na optimização da consulta dos recursos informativos disponíveis. ParaTalavera Ibarra (1998) o serviço de referência pode ser definido do seguinte modo: «O serviço que facilita o acesso à informação, e que especialmente ajuda o utilizador a localizar a informação procurada é o serviço de referência. Este serviço, tradicionalmente definido como aquele que relaciona o utilizador que tem uma necessidade de informação com os recursos ou fontes que vão satisfazer as suas necessidades.» Por outro lado, Córdon Garcia (1998) acentua a dimensão pedagógica do serviço de referência: «Trata-se, em suma, de possibilitar não somente a difusão da informação mas também a aprendizagem relativa aos modos operativos mais eficazes de captação da mesma da parte dos membros da comunidade.» Em relação à maior parte das definições de serviço de referência é possível constatar que a dimensão humana, isto é, o contacto pessoal entre o utilizador e o bibliotecário aparece como um elemento comum e essencial. O termo «referência» é consensual e completamente aceite na terminologia biblioteconómica portuguesa e, por conseguinte, a denominação de «serviço de referência» é aquela que é aceite para designar todo aquele serviço que na biblioteca está incumbido de responder, informar e orientar o utilizador nas suas dúvidas e pesquisas. Porém, apesar do termo «referência» se ter imposto, muitas bibliotecas têm adoptado outras designações. Entre os vários sinónimos para «serviço de referência»Merlo Vega (2000) destaca os seguintes: • Serviço de informação bibliográfica; • Serviço de orientação; • Serviço de consulta; • Serviço de pesquisas documentais. Richard Bopp desdobra os serviços de referência em serviços de informação, de formação e de orientação. Bertrand Calenge (1996) defende que acolher, orientar e informar são os aspectos que devem estar na base dos serviços dedicados ao público numa biblioteca. in Mangas. A criação de um serviço de referência supõe a existência de determinados recursos materiais e instrumentos de trabalho, a saber: as instalações e a localização, o equipamento, as fontes e os recursos de informação e a criação de um arquivo ou base de dados. Apesar da maior parte das Unidades Documentais nomeadamente as bibliotecas já dispor de catálogos em linha, poucas são as que no nosso país tem publicações electrónicas no Fundo Documental que detêm nos seus espaços físicos. Esta mudança causada pelas Tecnologias da Informação faz com que no aspecto biblioteconómico se levante certas questões tais como: os direitos de autor, o formato utilizado na transmissão e também a nível de descrição bibliográfica porque o que fica visível na Web em termos de descrição bibliográfica retrata os campos utilizados pela Unidade Documental. Preparar, identificar conceitos-chave, palavras, sinónimos e termos relacionados, construir a pesquisa com emprego de ferramentas comuns como operadores booleanos, truncatura, sistemas de classificação com índices e thesaurus, identificar os auxiliares disponíveis em cada base de dados, analisar criticamente os dados obtidos são as actividades que devem estar por detrás de um Serviço de Referência que permita criar um serviço com capacidade de responder a um utilizador cada vez mais exigente, uma vez que agora no mundo digital as bibliotecas digitais não lidam com perfis pré-estabelecidos de utilizadores, mas com todos aqueles que navegam diariamente na Web. in Marques

http://servicosdereferenciabe.blogspot.pt/


Não é só em termos históricos que a Biblioteca cruza o seu destino com o da Escola mas também em termos conceptuais e sistemáticos. Espaço de protecção do saber, também grande armazém de aprendizagem, espaço ordenado com vista à leitura, ao estudo, à sociabilidade entre gerações, toda a biblioteca tende a ser uma Escola. O conceito de biblioteca é um conceito dinâmico; passando de uma caixa onde se guardavam livros a «uma colecção organizada de livros e de publicações em série e impressos ou de quaisquer documentos gráficos ou audiovisuais, disponíveis para empréstimo ou consulta» (Magalhães, 1994), ou a “…uma instituição que sabe as necessidades informativas da sociedade, exercitá-las quando é preciso» (UNESCO, 1994).
Veiga et al., entendem por biblioteca escolar «o espaço e os equipamentos onde estão armazenados todos os tipos de documentos de informação que fazem parte dos recursos pedagógicos a serem utilizados em actividades lectivas, ocupação de tempos livres e de lazer». De acordo com este conceito, a biblioteca escolar é parte integrante do processo educativo. Ela é essencial a qualquer estratégia a longo prazo nos domínios da literacia, educação, informação e desenvolvimento económico, social e cultural. Sendo da responsabilidade das autoridades locais, regionais ou nacionais, a biblioteca escolar deve ser apoiada por legislação e políticas específicas. Deve ter meios financeiros suficientes para assegurar a existência de pessoal com formação, documentos, tecnologias e equipamentos e ser de utilização gratuita.
As bibliotecas escolares são geralmente reconhecidas como sendo um elemento fundamental de dois sistemas de um país: o sistema educativo e o sistema de informação. Organizações internacionais de grande prestígio como a UNESCO e a IFLA têm-se debruçado sobre este tema e, ao longo dos últimos quinze anos, produzido um importante conjunto de estudos e documentos. Dois dos mais importantes documentos são o Manifesto da Unesco sobre Mediatecas Escolares e os Princípios Orientadores para o Planeamento e Organização de Bibliotecas Escolares. Estes documentos constituem hoje um corpo teórico essencial para o desenvolvimento dos serviços de bibliotecas escolares em qualquer país. «A biblioteca escolar proporciona informação e ideias fundamentais para sermos bem sucedidos na sociedade actualmente baseada na informação e conhecimento» (Manifesto da Biblioteca Escolar).
A biblioteca escolar desenvolve nos alunos competências para a aprendizagem ao longo da vida e estimula a imaginação permitindo-lhes tornarem-se cidadãos responsáveis. Numa sociedade de informação, em que alguns dizem já estarmos a viver, onde os maiores problemas de quem lida com a informação são como recolher, organizar, sistematizar e tornar acessíveis milhões de dados que diariamente são produzidos em todo o mundo, as bibliotecas têm um papel fulcral no nosso sistema de ensino e são cada vez mais chamadas a desempenhar novos papéis.Reconhecendo lacunas existentes neste domínio, os Ministérios da Educação e Cultura lançaram o programa «Rede de Bibliotecas Escolares» com a pretensão de criar bibliotecas actualizadas em todas as escolas do país.
Ao proporcionar fontes de conhecimentos e ao contribuir para a afirmação do indivíduo na comunidade, as bibliotecas assumem uma dupla finalidade, elas são simultaneamente factores de desenvolvimento cultural e social.
Interessa pois conhecer o público utente das bibliotecas, público sem dúvida mais motivado para a leitura, e tentar perceber quais os seus interesses e necessidades para que se possam redefinir objectivos e adequar procedimentos, numa tentativa de o manter e de conquistar novos sectores da população. Os estudantes devem ser encaminhados para um aprender toda a vida, o que hoje é verdade, amanhã é posto em causa, como refere Umberto Eco, fazer com que a «Escola ensine para a Biblioteca», uma vez que o principal objectivo da biblioteca escolar é, hoje, «orientar os estudantes de modo a que estes aprendam a manusear a informação na sua vida futura».